Oi, gente! Volto aqui depois de 10 anos para retomar as resenhas dos livros da coleção "Primeiro Amor" da editora Ática. Muita coisa mudou nesses anos, mas uma coisa não mudou: minha paixão por leitura e meu amor por essa coleção. Eu estava olhando o post antigo e que coragem a minha chamar aquelas três linhas de resenha (rsrs), eram pequenos comentários, aliás muito rasos. Eu indiquei na época uma tese de mestrado, mas não falei muito sobre ela.
A tese de mestrado é da pesquisadora Jesiane Marion Fernandes, sob o título “A produção cultural juvenil e a contemporaneidade: a coleção Primeiro Amor”. Vou deixar linkado para fazer download, porque muitas informações não estão mais disponíveis no site da editora, mas foram eternizados na tese da Jesiane. Trouxe alguns pontos que considero mais importantes da tese. Na pesquisa dela vocês ainda encontram uma análise literária do livro “O amor pode esperar”, recomendo.
UM RESUMO
SOBRE A DISCUSSÃO GERAL ACERCA DA INDÚSTRIA CULTURA DE MASSA E COMO ELA ATINGE A LITERATURA
A autora da
pesquisa intitulada “A produção culturaljuvenil e a contemporaneidade: a Coleção Primeiro Amor” traz dados que afirmam
que os jovens leem muito, mas nas suas leituras não se encontram os cânones literários,
prevalece os livros da cultura de massa. Existe dois pontos de vista. O
primeiro é positivo: a leitura de qualquer livro é importante para aproximar o
jovem da literatura; o segundo é negativo: os livros estrangeiros com valor artístico
menor são mais lidos que os nacionais. No entanto, a literatura de massa não
pode ser vista como se fosse universal, existem aqueles livros que possuem certo
valor literário, pois há muita diversidade em cada obra, portanto precisa ser analisada individualmente.
Diante a
globalização, a industrialização e a expansão do capitalismo surge a sociedade de consumo em massa, para
atender a esse mercado globalizado o modo de produção se torna padronizado, uma
teia em que as pessoas são influenciadas e influenciam. Com as condições da pós
modernidade as pessoas tentam se encaixar em grupos e buscar por sua própria
identidade, a cultura não está mais nas mãos das elites, novas vozes (que não
são novas, só estavam silenciadas) são ouvidas: indígenas, mulheres negras, periféricas,
pobres, imigrantes, pessoas portadoras de alguma deficiência, etc. Neste cenário os produtos culturais são
produzidos em série. Ao mesmo tempo que a indústria cultura democratizou o
acesso a arte, banalizou-a com o pretexto de agradar o consumo.
A cultura
de massa homogeneíza os conteúdos, mapeando seu público alvo, acerta a fórmula que
fará sucesso e a replica diversas vezes até ficar saturado, apesar de vir numa
roupagem cujo objetivo é oferecer produtos únicos e “originais”, mas que se
vale de estereótipos.
Neste caso
a autora cita o autor Morin que mostra em poucas linhas o que a indústria
cultura de massa faz com a literatura: “A indústria do detergente oferece
sempre o mesmo pó, limitando-se a variar as embalagens de tempos em tempos”.
A autora
aborda o papel da literatura em meio a todas essas mudanças, tecnológicas e industriais.
A literatura tem o poder humanizador e de unir o ser humano permitindo “reconhecimento
de si mesmo”, mas também foi incorporada
ao capitalismo e se tornou um produto massificado.
O
marketing literário toma conta, a qualidade de livros é medida pela qualidade
de tiragens vendidas. Vários livros são lançados simultaneamente, com
shows, sessões de autógrafos, grandes eventos, a literatura é um acontecimento
popular e de massa, o público nas livrarias é diversificado, desde pessoas buscando
obras raras até jovens buscando a “musa mensal”.
Cada vez
mais há o investimento no design do livro, a capa colorida bonita para ser vendável,
neste campo o jovem é um grande potencial no consumo literário, porque a inserção
prematura do adolescente e criança ao consumo, mas poder terá a indústria sobre
esses adultos.
Esta
pesquisa de mestrado, que estou resumindo, tem dados de 2008 em que os jovens
leem mais e nada mudou em 2024. Segundo a pesquisa “Retratos da leitura no
Brasil”, 6° edição, de 2024, crianças de 11-13 anos e adolescentes de 14-17
anos leem mais que adultos. A explicação para estes índices é porque o público
jovem frequenta o ambiente escolar. Está aí a importãncia da escola!
Quadro com as informações e link: https://www.prolivro.org.br/pesquisas-retratos-da-leitura/as-pesquisas-2/
COLEÇÃO
PRIMEIRO AMOR E ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Estas dados
revelam que o sucesso da coleção Primeiro Amor não é uma surpresa. Conforme a autora
Jesiane Marion, a coleção é composta por 19 títulos publicados pela editora Ática,
cujo público são adolescentes de 12 a 14 anos. A ambientação da história e as
personagens são norte-americanos, todos os livros são traduzidos. Nos Estados
Unidos são 25 títulos e a coleção é intitulada “Love stories”. Apesar da indústria cultural ser marcada pela pouca durabilidade, a Coleção Primeiro Amor se revela
um produto diferenciado, pois durou 11 anos e é procurado até a atualidade por
fãs. Um ponto que achei muito interessante na tese é que a autora relata que no
site da editora os livros eram tratados como paradidáticos, ou seja, adequados para ser
trabalhados com os jovens leitores na escola.
Consoante
Jesiane, os livros da coleção primeiro amor não são nenhuma obra prima, um clássico,
mas com certeza são importantes e marcaram a vida de muitas meninas leitoras. A
narrativa tem poucos pontos de vistas, nenhuma reviravolta e tampouco um final
arrebatador e inesperado (como falei em 2015 rsrs). Fora o uso de clichês linguísticos
e extralinguísticos que envolve falas e cenários e características físicas dos personagens cujas fórmulas são usadas em várias outras coleções como a série de livros
“Biblioteca das Moças”.
O objetivo
do livro é ser entretenimento, proporcionar novas experiência, um
novo olhar, que não tem impacto social. Uma literatura leve e fácil
de compreender que traz mensagens positivas.
Por exemplo,
não existe menção a sexo efetivo, como salienta Jesiane. Não há uma proibição
extrema, ainda que haja descrições de sensações físicas e manifestação de afeto
públicas, usadas só para justificar as descobertas adolescentes da sexualidade, nenhum
dos livros aborda questões sexuais efetivas. Quando a personagem do livro
aparece com roupas curtas ou com algum grau de desejo erótico logo ela é
considerada indigna, desprezível ou leviana.
Portanto, um livro tipicamente infantojuvenil que não abraça polêmicas (isso é muito bom) e que marca gerações pela sensibilidade de seus temas. Que se adequa na categoria romance sentimental para entretenimento
“é a possibilidade que os leitores veem de evadir-se de sua realidade cotidiana nos momentos de leitura dos romances sentimentais. Ao se identificarem com as personagens, vivenciam seus conflitos, sentem que fazem parte de uma história diferente da sua e assumem as emoções descritas nos textos como verdadeiras” (Marion, 2020, p. 92).
FERNANDES, Jesiane Marion. A produção cultural juvenil e a contemporaneidade: a coleção Primeiro Amor. 2010. 141 f. Dissertação (Mestrado em Letras) - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010. |
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