sexta-feira, 25 de julho de 2025

A coleção Primeiro Amor foi tema de uma tese de mestrado que analisa a indústria cultural de massa

*clique na imagem para ver com qualidade.

Oi, gente! Volto aqui depois de 10 anos para retomar as resenhas dos livros da coleção "Primeiro Amor" da editora Ática. Muita coisa mudou nesses anos, mas uma coisa não mudou: minha paixão por leitura e meu amor por essa coleção. Eu estava olhando o post antigo e que coragem a minha chamar aquelas três linhas de resenha (rsrs), eram pequenos comentários, aliás muito rasos. Eu indiquei na época uma tese de mestrado, mas não falei muito sobre ela.

A tese de mestrado é da pesquisadora Jesiane Marion Fernandes, sob o título “A produção cultural juvenil e a contemporaneidade: a coleção Primeiro Amor”. Vou deixar linkado para fazer download, porque muitas informações não estão mais disponíveis no site da editora, mas foram eternizados na tese da Jesiane. Trouxe alguns pontos que considero mais importantes da tese. Na pesquisa dela vocês ainda encontram uma análise literária do livro “O amor pode esperar”, recomendo.

UM RESUMO SOBRE A DISCUSSÃO GERAL ACERCA DA INDÚSTRIA CULTURA DE MASSA E COMO ELA ATINGE A LITERATURA 

A autora da pesquisa intitulada “A produção culturaljuvenil e a contemporaneidade: a Coleção Primeiro Amor” traz dados que afirmam que os jovens leem muito, mas nas suas leituras não se encontram os cânones literários, prevalece os livros da cultura de massa. Existe dois pontos de vista. O primeiro é positivo: a leitura de qualquer livro é importante para aproximar o jovem da literatura; o segundo é negativo: os livros estrangeiros com valor artístico menor são mais lidos que os nacionais. No entanto, a literatura de massa não pode ser vista como se fosse universal, existem aqueles livros que possuem certo valor literário, pois há muita diversidade em cada obra, portanto  precisa ser analisada individualmente.

Diante a globalização, a industrialização e a expansão do capitalismo  surge a sociedade de consumo em massa, para atender a esse mercado globalizado o modo de produção se torna padronizado, uma teia em que as pessoas são influenciadas e influenciam. Com as condições da pós modernidade as pessoas tentam se encaixar em grupos e buscar por sua própria identidade, a cultura não está mais nas mãos das elites, novas vozes (que não são novas, só estavam silenciadas) são ouvidas: indígenas, mulheres negras, periféricas, pobres, imigrantes, pessoas portadoras de alguma deficiência, etc.  Neste cenário os produtos culturais são produzidos em série. Ao mesmo tempo que a indústria cultura democratizou o acesso a arte, banalizou-a com o pretexto de agradar o consumo.

A cultura de massa homogeneíza os conteúdos, mapeando seu público alvo, acerta a fórmula que fará sucesso e a replica diversas vezes até ficar saturado, apesar de vir numa roupagem cujo objetivo é oferecer produtos únicos e “originais”, mas que se vale de estereótipos.

Neste caso a autora cita o autor Morin que mostra em poucas linhas o que a indústria cultura de massa faz com a literatura: “A indústria do detergente oferece sempre o mesmo pó, limitando-se a variar as embalagens de tempos em tempos”.

A autora aborda o papel da literatura em meio a todas essas mudanças, tecnológicas e industriais. A literatura tem o poder humanizador e de unir o ser humano permitindo “reconhecimento de si mesmo”, mas  também foi incorporada ao capitalismo e se tornou um produto massificado.

O marketing literário toma conta, a qualidade de livros é medida pela qualidade de tiragens vendidas. Vários livros são lançados simultaneamente, com shows, sessões de autógrafos, grandes eventos, a literatura é um acontecimento popular e de massa, o público nas livrarias é diversificado, desde pessoas buscando obras raras até jovens buscando a “musa mensal”.

Cada vez mais há o investimento no design do livro, a capa colorida bonita para ser vendável, neste campo o jovem é um grande potencial no consumo literário, porque a inserção prematura do adolescente e criança ao consumo, mas poder terá a indústria sobre esses adultos.

Esta pesquisa de mestrado, que estou resumindo, tem dados de 2008 em que os jovens leem mais e nada mudou em 2024. Segundo a pesquisa “Retratos da leitura no Brasil”, 6° edição, de 2024, crianças de 11-13 anos e adolescentes de 14-17 anos leem mais que adultos. A explicação para estes índices é porque o público jovem frequenta o ambiente escolar. Está aí a importãncia da escola!

Quadro com as informações e linkhttps://www.prolivro.org.br/pesquisas-retratos-da-leitura/as-pesquisas-2/



COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR E ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Estas dados revelam que o sucesso da coleção Primeiro Amor não é uma surpresa. Conforme a autora Jesiane Marion, a coleção é composta por 19 títulos publicados pela editora Ática, cujo público são adolescentes de 12 a 14 anos. A ambientação da história e as personagens são norte-americanos, todos os livros são traduzidos. Nos Estados Unidos são 25 títulos e a coleção é intitulada “Love stories”. Apesar da indústria cultural ser marcada pela pouca durabilidade, a Coleção Primeiro Amor se revela um produto diferenciado, pois durou 11 anos e é procurado até a atualidade por fãs. Um ponto que achei muito interessante na tese é que a autora relata que no site da editora os livros eram tratados como paradidáticos, ou seja, adequados para ser trabalhados com os jovens leitores na escola.

Consoante Jesiane, os livros da coleção primeiro amor não são nenhuma obra prima, um clássico, mas com certeza são importantes e marcaram a vida de muitas meninas leitoras. A narrativa tem poucos pontos de vistas, nenhuma reviravolta e tampouco um final arrebatador e inesperado (como falei em 2015 rsrs). Fora o uso de clichês linguísticos e extralinguísticos que envolve falas e cenários e características físicas dos personagens cujas fórmulas são usadas em várias outras coleções como a série de livros “Biblioteca das Moças”.

O objetivo do livro é ser entretenimento, proporcionar novas experiência, um novo olhar, que não tem impacto social. Uma literatura leve e fácil de compreender que traz mensagens positivas.

Por exemplo, não existe menção a sexo efetivo, como salienta Jesiane. Não há uma proibição extrema, ainda que haja descrições de sensações físicas e manifestação de afeto públicas, usadas só para justificar as descobertas adolescentes da sexualidade, nenhum dos livros aborda questões sexuais efetivas. Quando a personagem do livro aparece com roupas curtas ou com algum grau de desejo erótico logo ela é considerada indigna, desprezível ou leviana.

Portanto, um livro tipicamente infantojuvenil que não abraça polêmicas (isso é muito bom) e que marca gerações pela sensibilidade de seus temas. Que se adequa na categoria romance sentimental para entretenimento 

“é a possibilidade que os leitores veem de evadir-se de sua realidade cotidiana nos momentos de leitura dos romances sentimentais. Ao se identificarem com as personagens, vivenciam seus conflitos, sentem que fazem parte de uma história diferente da sua e assumem as emoções descritas nos textos como verdadeiras” (Marion, 2020, p. 92).

 


FERNANDES, Jesiane Marion. A produção cultural juvenil e a contemporaneidade: a coleção Primeiro Amor. 2010. 141 f. Dissertação (Mestrado em Letras) - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010.

Música: Manu Gavassi - "Eu nunca fui tão sozinha assim" (instrumental).

Vídeo: acervo pessoal

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