terça-feira, 20 de maio de 2025

Resenha do livro "Jubiabá", de Jorge Amado.

 

 

"Antônio Balduíno agora era livre na cidade religiosa da Bahia de Todos os Santos e do pai de santo Jubiabá. Vivia a grande aventura da liberdade. Sua casa era a cidade toda, seu emprego era corrê-la. O filho do morro pobre é hoje dono da cidade" (p. 52).

            Há algum tempo que não lia literatura brasileira por prazer, só por obrigação. Livros que não escolhia. Por este motivo, nesse ano, decidi que leria a obra de Jorge Amado, começaria pelos livros que tenho em casa, uma modesta coleção. O escolhido para dar o pontapé inicial foi Jubiabá que conta a história de Antônio Balduino, Baldo, um anti-herói baiano. Acompanhamos a história desse personagem desde sua infância até a fase adulta. Todas as aventuras e desventuras, sentimos e vivemos com ele. Ele tem diversas profissões.  Vive muitas vidas em uma. De malandro a pai de família, Antônio Balduino é um homem negro em uma Bahia que sente fortemente o impacto que a escravidão causou, as desigualdades sociais funcionam como plano de fundo dessa bela narrativa. É nítido o amadurecimento do personagem ao passar das páginas e a consciência de si mesmo.

            Nas primeiras 40 páginas já estava chorando!!!  Baldo é órfão de pai e mãe, criado por uma tia, Luísa, porém, o senso daquela comunidade do Capa-Negro é muito forte, portanto, cresce com as orientações de Jubiabá e de seus vizinhos. Como você pode perceber, a obra não leva o nome do protagonista, mas do pai de santo Jubiabá, uma figura que se responsabiliza por toda uma comunidade, um pai, um professor, um médico, um líder comunitário, um guia espiritual. Se alguém precisar de ajuda, é o pai Jubiabá que socorre.


“Também Jubiabá gostava de Antônio Balduino. Falava com ele como se ele fosse homem. E o pretinho ia tomando amizade ao macumbeiro.

Respeitava-o porque ele sabia tudo e solucionava todas as questões entre o homem do morro. E curava todas as doenças e fazia feitiços fortes e era livre, não tinha patrão e nem horário" (p. 37).



    A linguagem de Jorge Amado permite a aproximação do leitor com os personagens, alguns personagens ganham capítulos próprios; outros, são tratados superficialmente e, apesar disso, sofremos com suas angústias e medos.

     O que Jorge Amado consegue fazer, poucos autores conseguem: a poesia contida em sua prosa, a sensibilidade em tratar de personagens simples, humildes com tanto carinho e verdade. Personagens que são ignorantes do conhecimento que a escola oferece, porém, sabidos do conhecimento que só as experiências de vida são capazes de proporcionar. Nenhum saber pode ser ignorado.

     Além de apontar para um Brasil sob a mão do capitalismo americano que instalou suas empresas aqui em solo tupiniquim e levava todo o lucro, o estopim das greves dos trabalhadores, a conscientização política que surge em meio a centenas de milhares de trabalhadores braçais, a exploração das mulheres nas fábricas e a tristeza de observar que escolher viver uma vida digna era como quase escolher passar fome, resultado dos salários baixos, que mal compravam comida. Saúde precária. Eu, particularmente, consegui enxergar algumas outras críticas que podem ter sido propositais, como a exploração sexual de mulheres e a exploração intelectual e criativa de Baldo.

         Nesta narrativa, Jorge Amado aborda o progresso, a desigualdade, o racismo, os conflitos raciais, a pobreza e a violência. Todos os tipos de violência. Às vezes, a história fica muito dolorida; outras, ela toma contornos até de terror à lá Edgar Allan Poe (a descrição do corpo de Viriato no bar, por exemplo). 

           Há ainda muitas menções a religião africana, o candomblé e ao cristianismo, este último pela figura do Gordo, que não era apático a dor do outro, e foi assim que sentiu a maior dor do mundo e não aguentou (o fim desse personagem é muito triste).

       O livro é dividido em três capítulos: “A Bahia de todos os santos e do pai de santo Jubiabá”, retrata todo a infância de Baldo; “Diário de um negro em fuga”, a vida adulta e todas as dificuldades dele, escolhas e tomadas de decisões e o “ABC de Antônio Balduino”, o amadurecimento e a consciência do ser.

Como trata-se de uma obra de ficção não vou falar sobre o final, mas reitero que esse livro vale muito a pena ser lido. Ler sobre a nossa história sempre me desperta mais interesse. Além de ser um livro curto de linguagem simples (que não significa que não haja complexidade na temática, pois requer inferências), se torna mais agradável.

Editora: Círculo do Livro

Capa: Natanael Longo de Oliveira

Número de páginas: 285 (é um livro pequeno no tamanho também).

Autor: Jorge Amado 




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Facebook

Pinterest

Youtube